ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

1.4.17

O TIJUCANO, de ALDIR BLANC


Texto extraído do livro Rua dos Artistas e Arredores, publicado pela Codecri em 1978 e republicado pelo Círculo do Livro

A verdade é que o Tijucano vive num dilema desgraçado. Considerado semi-ipanemense pelos suburbanos e tido como meio suburbano pelos ipanemenses, o Tijucano passa momentos difíceis num bairro impreciso.

- Tu mora aonde?

- Tijuca.


O autor dessa resposta pode morar no Largo da Segunda-Feira, no Maracanã, no Andaraí, em Vila Isabelem Aldeia Campista... Digamos que entre o Estácio e o Grajaú tudo é Tijuca.

Se vocês estão pensando que eu vou dizer "o Tijucano é um estado de espírito", aqui ó!

O Tijucano é um estado de sítio.

Premido pelo sagrado horror da acusação de suburbano e sonhando, secretamente, com as mordomias ipanemenses, o Tijucano adota uma atitude blasé em relação a seu controvertido bairro. Acha a Tijuca "devagar, careta, meio não sei como, sacou?"

Saquei, bestalhão. A Tijuca é exatamente isso: meio não sei como. Uma amostra magnífica do nosso querido Brasil.


O Tijucano não tem salvação. Pode fingir, fugir, mudar, inventar, mas será sempre tijucano. Mesmo que o corpo disfarce, a alma, como o criminoso, como filho pródigo, voltará sempre à Tijuca. Nenhum morador, nenhum bairro, padece tanto do tal conflito amor-ódio como o Tijucano. Ele fala mal dos bares da Tijuca, mas não sai deles. Detesta os cinemas do bairro, mas raramente vai a outros. Elogia o comércio da zona sul, mas não abandona as lojas da Tijuca. Venera as tangas, desde que não seja na mulher dele. É progressista, desde que o progresso não o afete. Esmera-se em sua descontração. Vigia sua esportividade. Obstina-se em sua espontaneidade. Por trás da indiferença com que trata o bairro, esconde-se o orgulho. O maldito orgulho de ser Tijucano.


O Tijucano-padrão é feito aquele amigo meu que pirou em plena Praça Saens Peña, tirou toda a roupa, subiu numa árvore e começou a gritar:

- A Tijuca é uma merda! Tô farto disso aqui! Num guento mais a Tijuca! É uma merda! Uma verdadeira merda!

Quando a ambulância chegou e meu amigo leu o que estava escrito nela, o escarcéu aumentou. Do alto da árvore, nu, mas em pose de senador, bradava:

- Pro Pinel, jamais! Nós, tijucanos, temos nosso próprio sanatório!

FOTOS TIRADAS NA TIJUCA PELO EDITOR DO BLOG. PARA LER OUTRAS POSTAGENS NESTE BLOG SOBRE ESSE BAIRRO CLIQUE NO LABEL "Tijuca" ABAIXO

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