ENSEADA DE BOTAFOGO

ENSEADA DE BOTAFOGO
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA

VISTA DO TERRAÇO ITÁLIA
São Paulo, até 1910 era uma província tocada a burros. Os barões do café tinham seus casarões e o resto era pouco mais que uma grande vila. Em pouco mais de 100 anos passou a ser a maior cidade da América Latina e uma das maiores do mundo. É pouco tempo. O século XX, para São Paulo, foi o mais veloz e o mais audaz.” (Jane Darckê Avelar)

14.11.14

PASSEIO ATÉ BANGU

Estação Bangu

Tendo lido na imprensa sobre o novo sistema dos trens expressos da Supervia, que reduz os tempos de viagem nos ramais de Japeri e Santa Cruz, eu, o eterno explorador dos quatro cantos do Rio — e, confesso, tendo trabalhado treze anos na extinta Rede Ferroviária, trago ainda a ferrovia no sangue  resolvi dar minha conferida como “observador externo”.

Cheguei na estação Central do Brasil (oficialmente, Estação Dom Pedro II) às 13:30 e o quadro de horários indicava que o próximo Santa Cruz sairia em sete minutos. Embarquei. No horário marcado (suponho, estava sem relógio), as portas fecham. Abrem de novo. Voltam a fechar e a abrir várias vezes. Nos próximos vinte minutos, ninguém sabe se aquele trem vai sair ou não. Não passa pela cabeça do maquinista orientar os passageiros pelo sistema de alto-falantes dos vagões. Será que ele acha que está transportando carga?

Vinte minutos depois parte dos passageiros saem correndo até o outro trem, em frente, na mesma plataforma. É o trem “seguinte” para Santa Cruz que está em vias de partir.

A viagem é uma festa para os ambulantes. Vendem de tudo, de barras de chocolate e de cereais (tudo mais barato que no comércio convencional) até amolador de facas. É isso mesmo. Um vendedor simpaticíssimo munido de um megafone fixa um amolador na parede do trem e põe-se a louvar suas virtudes, com direito a demonstração com faca, tesoura. (Dizem que Silvio Santos começou mais ou menos assim.) Um passageiro ao meu lado fala (comigo? brasileiro tem essa virtude de falar com a pessoa ao lado): “Em casa tenho sete facas cegas, será que isso amola mesmo?” Acaba comprando. Também a cinco reais...

A certa altura ouve-se um "batidão" em pleno trem. É o vendedor de um CD de funks. Nada de proibidões, palavrões, adverte, são funks clássicos. Um outro ambulante se anima e põe-se a dançar no trem. Numa estação, sobe uma mãe com um bebê no colo. Logo alguém avisa: “Uma mãe com um bebê, ninguém vai dar lugar?” E alguém cede o lugar (contrariado?) Regras e disciplinas no país do Carnaval não são bem-vindas, mas informalmente dá-se um jeito.

Chego em Bangu após cerca de meia hora de viagem, uma marca admirável. Vai tentar fazer esse trajeto de ônibus! O sistema de trens expressos funciona mesmo! A refrigeração do trem não estava lá essas coisas, mas aqui fora faz um calor de derreter catedrais, como diria Nelson Rodrigues. O que vim fazer nessa lonjura? Vim fazer o que faço Rio afora: explorar. Meu objetivo principal, a antiga Fábrica de Tecidos Bangu que deu início à urbanização do bairro, antes zona rural. O complexo, no estilo da arquitetura industrial inglesa da época com tijolos aparentes, depois que a fábrica fechou passou a abrigar um shopping. Projeto mais do que louvável que contribui para humanizar um bairro com poucos atrativos. 

Antiga Fábrica de Tecidos Bangu, atual Shopping Bangu. A fábrica foi construída pela Companhia Progresso Industrial do Brasil no terreno do antigo engenho Bangu. Em 1895 foi inaugurada a vila operária com 95 “casas higiênicas” que constitui a origem do bairro atual. Os mais antigos equipamentos urbanos do bairro foram criados em função da fábrica e seus operários. (Guia da Arquitetura Eclética do Rio de Janeiro)


A unidade arquitetônica do conjunto é conferida pelo tijolo aparente que harmoniza a convivência de diferentes referências estilísticas. Sob esse aspecto, Bangu repete outras fábricas brasileiras de tecidos inspiradas na arquitetura fabril inglesa. Parte da ornamentação arquitetônica — arcos, pilares com seus capitéis, dentículos etc. — é constituída por relevos da própria alvenaria. No corpo da fábrica os diferentes blocos e alas convergem para a torre do relógio de quatro mostradores. (Guia da Arquitetura Eclética do Rio de Janeiro)

Igreja de São Sebastião e Santa Cecília. Inaugurada em setembro de 1908, possui fachada em tijolo aparente avermelhado que confere unidade arquitetônica com as edificações do terreno da antiga Fábrica de Tecidos Bangu. Construída em estilo neogótico inglês, a igreja possui vitrais e arcos apontados no interior e uma torre sineira encimada por cúpula piramidal. (Guia do Patrimônio Cultural Carioca)

Bangu Atlético Clube, antigo Cassino da Vila Operária

Thomas Donohoe (chamado pelas pessoas de "seu Danau"), pioneiro do futebol brasileiro. No local desta estátua foi realizada a primeira partida de futebol no Brasil. "Thomas Donohoe chamou, de casa em casa, todos os seus companheiros dos velhos tempos. Um grupo composto de doze homens apareceu no campo improvisado em frente à fábrica, apresentando aquela que seria a primeira partida de futebol no Brasil, com a primeira bola a entrar em nosso continente." "Thomas Donohoe ajudou a fundar o Bangu Atlético Clube em 17 de abril de 1904 e seu filho Patrick foi o primeiro grande ídolo e artilheiro." (Informações transcritas das placas ao pé da estátua)

Uma última observação: na volta à Central, você mal consegue desembarcar do trem. As pessoas, na ânsia de pegarem um lugar sentado, entram feito estouro de boiada. Não posso criticá-las: deram duro o dia inteiro e ainda têm uma longa viagem pela frente.

4 comentários:

Esther Largman disse...

Olá Ivo. Quando fiz concurso para professora de História do que hoje é ensino médio, fui premiada com o Colégio Daltro Santos. Era muito longe, pegava ônibus na Santa Clara e depois o vermelhinho do Largo de São Francisco que ia para Campo Grande. Fui poucas vezes de trem, uma vez peguei um que era militar, carona que deram para os professores que desceriam. Normalmente voltava em pé, mas era jovem e a carga semanal era dividida em dois dias inteiros. Ruim ficou quando um filho adoeceu e naquela ocasião os telefones demoravam de dar linha. Parece pré histórico, não? Eu gostava muito da turma, fui homenageada mas assim que pude transferi-me para Copacabana. Ficou a saudade dos alunos que eram esforçados. Certo dia quase desmaiei por causa do calor.
Vejo pelo seu blog como mudou, Bangu evoluiu bastante, também lá se vai quase meio século.
Minha secretária reside lá e se queixa dos trens. Retiraram o que passava em Bangu, agora é como você descreve. Só que ela pega de madrugada e volta na hora do estouro da boiada. Muitas vezes pega os trens antigos, não os modernos chineses com ar condicionado.
Na Coréia e na China colocam funcionários com luvas para empurrar os passageiro que tentam adentrar os trens urbanos. (comentário enviado por e-mail e inserido aqui pelo editor do blog)

Unknown disse...

bom dia
Parabens. Posso comprar algumas fotos de vôce para um livro sobre o Rio ? Obrigado. Thomas Jonglez
thomasjonglez@hotmail.com

Unknown disse...

Acabei de ler seu texto Ivo, adorei. Achei divertido, bem leve e bastante enriquecedor. Parabéns pela iniciativa. Atenciosamente, Luiz da Pé de Moleque!

Unknown disse...

Acabei de ler seu texto Ivo, adorei. Achei divertido, bem leve e bastante enriquecedor. Parabéns pela iniciativa. Atenciosamente, Luiz da Pé de Moleque!